terça-feira, 18 de maio de 2010

Alguns pensamentos


Enquanto cevo um mate com vocês meus amigos, vou mexendo em alguns brasedos do pensamento. Volta e meia surgem reflexões que esqueço de postar aqui. Muitas vezes penso na autenticidade e beleza do nosso canto nativo, o canto do povo da Sul-América, da Pampa. Temos a concepção cultural da poesia e música do Rio Grande do Sul, sob uma perspectiva simbólica, material, de necessariamente associar algum estereótipo, ou elementos simbólicos e cívicos que em pouco refletem a real identidade com o campo. Ao longo da história musical do Rio Grande do Sul, tivemos dois nomes que cantaram a sua terra, seu povo e ambiente, com singeleza, sensibilidade e plenitude. Jayme Caetano Braun e Noel Guarany, não por acaso, se tornaram parceiros musicais, transpondo as fronteiras do Brasil, e unindo no seu canto, as melodias e versos do Pampa Sul-Americano, abrindo o caminho para a integração com os compositores da música nativa do Uruguai e Argentina.

Certa vez perguntaram para um paysano chamado Atahualpa Yupanqui, patriarca do canto nativo Argentino, como ele fazia para compor um canto tão belo. Ele disse: "mire amigo, mi canto és feo. Lo bonito son los ríos, los pájaros, los árboles, el paysaje, los cerros, eso és lo bonito".
Aí está a percepção cósmica, transcendental e ao mesmo tempo singela da cultura nativa, da música, refletidas na vida e na obra de Atahualpa.
E quando nos encontramos reunidos à beira de um fogo, comungando a tertúrlia de um mate e dos sons de uma guitarra, esquecemos na maioria das vezes, que este sentimento fraterno, nos foi legado pela nossa ancestralidade indígena. A reunião fraterna, a comunhão dos amigos e da família, da tribo e da tolderia, que faziam nossos ancestrais charruas e guaranis antes da chegada do europeu. Quando ouvimos certas canções, lemos aguns versos e textos, ou contemplamos alguma paisagem, sem nos darmos conta, deixamos nossa cosmovisão européia e adotamos a cosmovisão de nossos antepassados índios, primeiro dono desta terra. Ainda que não tivessem esse caráter proprietário. Eram os "donos" legítimos, pois amavam, cuidavam e comungavam com esta terra.

Por isso quando ouvimos um chamame, nossa alma voa longe, pelos rios, campos e cerros, buscando o céu, e nesse chamado da alma, há muita ancestralidade dentro da gente. Um instinto protetor da terra e do meio ambiente, da nossa Tolderia, e uma vontade de expandir nosso conhecimento do cosmo, do espaço.

No ressonar de uma cordeona correntina, no bordonear de uma guitarra costeira, há um chamado da Terra!

Foto: Karen Campani

terça-feira, 11 de maio de 2010

Manhãzita de Maio

"Manhazita de Maio, notícias do céu, desabam nas casas
O angico nas brasas, consome sem pressa, seu cerne de lei"

Os versos acima, são da poesia de Gujo Teixeira e musicada por Luiz Marenco, cujo título é "Enchendo os olhos de campo". Este é meu bom dia para os amigos, e retornando após umas semanas sem postar nada. Fico com saudade de escrever. Porém, estava escrevendo umas linhas em outra pauta, no espaço do campo a fora, no interior de Dom Pedrito, no compasso de uma tordilha. Égua mansa, mas boa de aparte, repontamos a essência mais uma vez, nesse contato telúrico.
E perder de vista o horizonte, mirando ao Sul e à Oeste o Pampa, nas coxilhas de Dom Pedrito, é adentrar na essência e na autenticidade da vida e do ser!
Aqui vai um saludo ao nosso amigo Jader Leal, cantor e compositor nativista, por prestigiar este espaço.
E estendendo este mate aos amigos, com o aroma dos campos de Dom Pedrito!