terça-feira, 22 de junho de 2010

Tempo, cultura e Inverno

Volto a escrever aqui meus amigos, já defasado no tempo. Uma vergonha até, quando publiquei a última postagem. Porém, aconteceram grandes momentos para a cultura gaúcha nesse tempo. No ínicio deste mês, ainda no Outono, em meio à geada e ao frio do planalto catarinense, se realizava em Lages, a 18ª Sapecada da Canção Nativa, festival de música gaúcha, que reúne músicos, compositores e cantores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, e Uruguai e Argentina. A partir daí, começamos a compreender alguns rastros do corredor que levam a invernada de solo fértil e plena de pastagem, da dimensão da cultura gaúcha. O dialeto musical e poético que integra gaúchos e "gauchos", do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, encontra lugar na consciência cultural dos irmãos de Santa Catarina, especialmente na região serrana, o planalto catarinense. Uma região que foi rota de tropeadas em tempos passados, cuja memória renasce na atitude gaúcha e autóctone de seus jovens cantores e compositores dos tempos atuais. Assista o video abaixo, com a composição "Do Passo ao Rincão da Raia", que retrata a região das tropeadas em Santa Catarina, e a relação ancestral do tempo e da vida, do neto que herdou do avô, o ofício de tropeiro. Intérpretes: Érlon Péricles, Juliano Moreno e Ângelo Franco




A riqueza musical e poética apresentada no palco do Festival da Sapecada de 2010, indica um rumo cada vez mais maduro, qualificado, autêntico e ao mesmo tempo original da cultura gaúcha. É de destacar o trabalho de Índio Ribeiro, Vitor Amorim e o grupo Coração de Potro, naturais da região de Lages, e a musicalidade que vêm imprimindo nas suas composições, com quatro e até cinco guitarras (violões), ao melhor sabor da fronteira, mas com estilo próprio.
Um outro aspecto que marcou muito esta edição do Festival, foi o nível poético das composições, com letras autênticas, humanas, versando sobre a história das tropeadas da região, a saudade do homem pela sua querência, a existencialidade no fim da vida, os olhos da mulher amada, e a singeleza de um buçal(1)trançado especialmente para um gateado(2).
Até o fim da semana, postaremos mais informações sobre este grande Festival da Sapecada em sua 18ª edição. Ademais, só resta agradecer à comunidade de Lages em Santa Catarina, e aos compositores e músicos que participaram do festival, pela elevação da qualidade poética e musical da cultura gaúcha, ampliando seu espaço, seu cosmo.

(1) buçal - *espécie de cabresto com focinheira. É uma peça de couro que faz parte dos arreios e é colocada na cabeça e pescoço do cavalo.
(2) gateado - pêlo do cavalo entre o amarelado e o avermelhado, com uma raia(lista) por sobre o lombo, e com crinas, cola e membros da mesma cor.

* NUNES, Zeno Cardoso; NUNES, Rui Cardoso. Minidicionário Guasca. Martins Livreiro Editor, 1987