sexta-feira, 29 de julho de 2011

Querência e Identidade

Para ti, Celeste.

Essa é para os amigos e para ti Celeste, atletas de futebol de Uruguay, Don Oscar Tabarez, a todo pueblo uruguayo, amigos que conheci ao largo da vida, vivencia fronteriça onde aprendi que a Pátria não se faz com impérios e conquistas, mas com amor à terra, gente trabalhadora, humilde, amistad y fraternidad! É matear con los vecinos aos finais de tarde, é cumprimentar as pessoas na rua, é compreender que a felicidade está no simples da vida. Está na melodia dos sábias entonando hinos na copa de um cinamomo, num mate y galleta, numa guitarra ponteada entre amigos, nas crianças brincando nas calçadas, mirando nosso exemplo! Está em reunir, valorizar e amar a família, e os amigos, naturalmente! Está em rir dos problemas, das dificuldades, e ir tocando a vida em frente, firme como tropeiros conscientes que lá adiante, terá pastagem boa para o gado! Por isso torci por ti Celeste, por teu povo, e continuarei torcendo, pela origem e proximidade que tenho com as tuas raízes, que penso serem as minhas. Ao caminhar nas ruas do teu país, que é o mesmo meu, pois atravessando de Livramento para Rivera, e de lá pra cá tantas vezes, já esqueci em qual país estava. Minha memória e minha alma, já aquerenciaram os dois! Por toda essa vivência de fronteira, desde o meu olhar de menino até meu sentimento de homem, admirando as paysanas dos dois lados, admirando o trabalho e a hospitalidade de seu povo, e em cada passeio e investida na tua terra Celeste, perceber no olhar de muitos hermanos, a dignidade e a felicidade por serem dali, fazerem parte daquela terra, uruguaios que muito trabalham e pouco recebem pelo serviço que fazem, ao longo de tantos anos de dificuldades econômicas e sociais, jamais esmorecem, seguem tentando, trabalhando, trabalhando, criando um serviço ou outro, seguem a vida, a dignificam.
Pelos quileros que cruzam de Mello às Serras do Aceguá, do lado de lá para o lado de cá, apenas levando produtos que são mais baratos ou faltam no seu país, um azeite, farinha, café, açúcar, e são chamados pelas autoridades governamentais dos dois países, de “contrabandistas”! Contrabandistas são os que lidam com armas e drogas, e outros males por aí! Contrabandistas estão nas esferas do executivo e legislativo, realizando contrabando do dinheiro dos nossos impostos para investimentos indevidos, para obras desnecessárias ou eleitoreiras!
Ressaltando que os quileros, são pessoas de poucos recursos e escassas oportunidades de trabalhos, que procuram levar uma vida digna, sem prejudicar a ninguém, apenas compensando à suas parcas vidas econômicas, um pouco de conforto que a proximidade com a fronteira proporciona.
E por toda essa riqueza de humanidade, de saber o simples, de conhecer onde está a aguada pura, a boa invernada, de aprender com o teu, ou o meu povo, a persistência, é que neste 24 de Julho de 2011, fui às lágrimas por ti Celeste.
Acho que é assim que se reconhece uma nação, um sentimento de povo. Continuarei sendo brasileiro, amando meu povo, e a todos os cidadão desse planeta, mas não posso ser hipócrita com a minha alma, os meus sentimentos e raízes que apontam em direção ao Sul, a torcer pela tua bandeira, pelo exemplo de tua gente, como tem sido ao longo da história o exemplo dos teus atletas, das tuas equipes, dos bravos de hoje! Eles são e serão ótima influência e inspiração para as crianças e jovens de todos os cantos do mundo, pela atitude, respeito ao adversário mas com foco no objetivo, principalmente defender com garra, alma e coração as cores da sua bandeira, o seu povo!
Por isso quando olho para os campos se perdendo no verde do horizonte pampeano, vejo uma fronteira se desfazendo, percebo duas pátrias se encontrando! E ao escutar os sons da guitarra nativa y gaucha de Don Pepe Guerra cantando Verde Esperanza, lembrei os olhares de muitos amigos e amigas, paysanos y paysanas que conheço, de amigos que torcem comigo pela equipe uruguaia e pelo povo também, da minha vivência fronteiriça, da saudade de meus pais e da minha Bagé, olhando pro Sul, no costado do Uruguay, por todo esses caminhos de viver, chorei por ti Celeste! De amor e felicidade, tal como o sol que ilumina tua bandeira e teu povo!
Como diz o poeta Marco Antonio Antunes: “al pasar por la frontera, me siento un poco uruguayo, mi lengua es la del corazón, que es la misma en cualquier lado!”

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Manhãzita gelada y campo

Amigos, buenos dias. O título assim, na mescla do espanhol e português, pois essa condição de duplo idioma me acompanha desde criança na fronteira, e nos dias de hoje, mesmo residindo em Porto Alegre, o sotaque e a maneira de falar se enraizaram tal qual uma coronilha que nasce entre pedras mouras e campo nativo. Assim, a pampa se aninhou dentro da alma, ou melhor, minh´alma que se "anidó" en la pampa.
Ninho que fiz na copa dos jacarandás da praça nesta manhã, enquanto meu pensamento repontava outras manhãs inverneiras nalgum fundo de campo, pois a sensação de frio polar, com minuano e céu azul, traz à memória o aroma da lenha de mato nativo queimando num brasedo madrugador, enquanto que a fumaça lançada no céu e no espaço, simbolizando o pensamento da gente do galpão, num genuína demonstração de quem cuida querência e sedimenta a pátria, tal como um joão-barreiro faz seu ninho.
Neste Julho gelado que principia, num frio influenciado pelas correntes climáticas austrais, partilho este sentimento de pampa, minunano, fronteira hermanda, porém com muita lenha pra atiçar o fogo e esquentar cambonas para as nossas mateadas Inverno a dentro.
Abaixo un "videozito" do youtube, com Palas Brancos de Fronteira, esta obra-prima do Sérgio Carvalho Pereira e do Lambari, umas das composições que mais genuinamente falam do campo em suas condições climáticas, culturais e ambientais, numa perspectiva de pensamento rara. Um abraço!