terça-feira, 10 de agosto de 2010

De alma, pampa e Minuano II

Opa. Nem reparei que pampa está escrito em minúscula, pois dá nome à um bioma, logo teria de ser grafada em maiúscula. Mas não vou arrumar, tem que editar, cosa e tal, então vamos ao conteúdo e não à forma. Pois dando seqüência ao sentimento nativo do Inverno pampeano, há uma obra das mais belas e conscientes já realizadas na música e poesia do Rio Grande do Sul, extensiva à toda cultura da Pampa. É um poema que tem gênese, vigor, terra, alma, universo e evolução da consciência humana. Seus versos trilham "huellas" de luz e espiritualidade, e a melodia alcança os acordes mais essenciais e autênticos da alma pampeana, numa composição que esclarece a universalidade dos homens, e a identificação espontânea, do sentir e do pensar dos gaúchos de toda Pampa, seja no Uruguay, Argentina ou Brasil. Falo da composição "Batismo", de Sérgio Carvalho Pereira, autor da poesia, e de Juliano Gomes, autor da melodia. Não por acaso, foi a vencedora da Décima Edição do Festival Um Canto Para Martin Fierro, de Santana do Livramento, em Dezembro de 2008, quando conquistou a maioria dos prêmios daquela edição.
Abaixo, a letra da composição "Batismo".

Batismo

Com incensos de aroeira
E salmos de uma milonga
Água benta de cambona
E um claro de lua inteira
Longe dos templos de ouro
Bajo uma quincha pagã
Pelegos, tiras de couro
Me batizei entre os touros
Ungidos de picumã.

Meu batistério: um galpão
Derreado pelos minuanos
Vento do Sul, soberano
Minha primeira oração
Depois, pros males do corpo
Peguei a cuidar da alma
Fervendo infusões de campo
Con yerbas de Viernes Santo
E silêncios, que a dor acalma.

Na flor das mãos, o calor
Da queimadura do laço
O batizado machazo
Dos que não tem tirador
Me benzi de Invernos grandes
Para cruzar las heladas
Depois que a junta se entangui
Mistura a geada no sangue
Já não se sente mais nada.

Segui o gado que berra
Numa culatra de tropa
Da poeira que o casco solta
Me cobre o manto da terra
Me iluminei de mandados
Cruzadores de tormenta
Vi a força do descampado
Que um raio sobre o alambrado
Mestre de angico arrebenta.

E assim me tomei cristiano
E assim que me reconheço
Na minha oração, paisano
Cada milonga es un rezo
Cada rancho é como um santo
Por mais humilde, meu templo
Juntei nada e juntei tanto
Nestes batismos de campo
Na solidão do meu tempo.

2 comentários:

  1. Mazaaaah, sabe muito esse guri!
    Beijão, Marcos!

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  2. Oi Paulinha querida! Obrigado pelo apoio ehehhee, porém faltou o video. Na verdade achei que tivesse esse material nos meus arquivos, mas não achei nem no youtube. Beijão pra ti!

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