quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Canto de Primavera Linda

O sentimento é um motivo para expressão na arte, e a escrita, os versos ou a verbalização na charla, são os comunicadores do meu sentimento ao mundo e às pessoas. Acredito que em muitos aconteça o mesmo.
Que "cosa buena" serenar um mate nos finais de tarde deste Novembro, que esteve a saudar ventoso os galhos do arvoredo, segredando acordes de milongas, zambas ou vidalas. Que melodia mais linda, a do vento tirando notas das copas dos jacarandás, tipuanas, cinamomos, paineiras, angicos, curunilhas, corticeiras. A cada movimento das árvores, que tenho como irmãs e amigas, um guitarreiro parece bordoneando silente as milongas da alma, ou uma cordeona se abre entregando a alma ao vento, soprando livre na música vibrante, cativante e amiga de um chamame.
Pois o balanço do arvoredo nesta Primavera, bem me lembra a elevação espiritual de um chamame entonado por um Leonel Gomez, um Raul Barboza, um Gilberto Monteiro, Aluisio Rockembach, um Luiz Carlos Borges, um Ernesto Montiel, que nos levam a um novo caminho de um belo porvir, na certeza terrunha dos rastros daqueles que nos sucederam.
Tche que lindo, amigos, repartir com todos estes momentos aqui no blog, servindo um mate com a seiva pampeana que em mim circula, e ofertar o que de mais caro meus sentidos podem captar. Visão, olfato, ar, audição, os aromas silvestres que se percebem intensos nessa época, o caminho que se abre no florir das estradas e dos campos, e a água que espelha a alma, quando o rio nos "regala" um por-de-sol, na generosidade materna com que a Terra nos acolhe a cada dia.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Na transição do mês

Pois é viventes. Se foi o Outubro e quando percebi, nada havia postado me nosso blog. Bueno, este mês caracterizou-se por uma Primavera com jeito de Outono, com chuvas de volume considerável para o campo nativo, dias de sol suficientes para amadurecer o pasto e as plantas, e com temperaturas amenas, garantindo a retenção de água no solo, ou seja, condições essenciais para o bom andamento da atividade agropastoril, e ainda se desenvolvida de forma sustentável.
Neste intercurso de tempo, além do trabalho, partilha com os amigos e familiares, mudanças de rumos de muitas pessoas queridas, amigos casando, vidas iniciando, crianças crescendo, me tem chegado na companhia dos mates, algumas idéias que achei por transformar em versos simples, de alma nativa e aqui publico alguma coisa. Vamos seguir mateando por aqui...


De Madrugada e Tempo

Madrugada de Primavera,
com cisma ainda de Inverno,
mateio no ritual fraterno,
que há tempo trago comigo,
neste fogonear, lembro os amigos,
na essência de um angico puro cerno.

Às vezes antes da lida,
no momento de calma e luz,
o costume crioulo me conduz,
à versejar campo e frontera,
alma timbrada nas praderas,
que o sol da milonga reluz.

Num bordonear, repasso meu tempo,
notas antigas, guardadas no peito,
lembranças de avós, pelo jeito,
neste cantar feito querência,
assim vou desaguando ausências,
como um rio que corre pro leito.

Marcos Almeida Pfeifer, Outubro 2011, Lua Crescente

Foto: Karen Campani